Précarnaval

Já é quase carnaval e me preparo pra sair na avenida. Eu, mulata e purpurinada balançando as ancas para milhares de pessoas que tem a oportunidade de me ver em nada mais do que NADA.

Já é quase carnaval e me preparo pra voltar pra casa. A viagem vai demorar mais do que o planejado e quando chegar em casa me vou outra vez. Vou pra piscinas térmicas passar quatro dias com a terceira idade.

Já é quase carnaval e me preparo pra ficar em casa. Nada mais que eu e eu. Algumas cervejas, alguns cigarros e algumas boas músicas.

Já é quase carnaval e me preparo pra pegar todas. Cidade pequena é assim mesmo, carnaval de bloco e brotos em penca.

Já é quase carnaval e me preparo pra não estar nem aí para o carnaval.

A volta, revolta.

E pensar que tinha passado, que já não existia mais nada. Só pensar. A volta trouxe tudo de volta e junto com ela, a revolta que se fez em lágrimas. E as lágrimas que não caíram se tornaram dor, as que caíram, se foram. Antes aquelas tivessem caído, porque daquelas que se foram ninguém lembra mas a dor é o lembrete das que ficaram.

Em instantes

Na medida que a hora da partida se aproxima mais não soube o que sentir. Conhecia o lugar mas já não sabia o que ia encontrar por lá. Tinha se perdido e levou um tempo pra se achar. Ficou com medo que fosse se perder de novo. E pior, tinha medo de nunca mais se encontrar. Olhando velhas fotos percebeu que queria voltar a ser o que era, voltar a ser alguém que sentisse orgulho de ser. Queria olhar no espelho e não ver um monte de erros e vícios e sim aquilo que um dia fora. Queria poder nos próprios olhos e enxergar alguma coisa, não o vazio que via agora. Queria voltar a ser maior, ser melhor. Queria voltar a ser quem era.

Anos Depois...

Depois de anos, ela finalmente apareceu. Já não sorria. Mantinha a expressão imutável em todas as conversas e em todas as fotografias. Por fora, não havia dúvidas, era a mesma. Já por dentro não era a mesma. Não era a mesma nem nunca voltaria a ser. Percebeu que se quisesse alguma coisa teria que lutar com todas as forças, aprendeu que a sua opinião também poderia (e deveria) ser imposta e que o que mais queria era vencer na vida. No entanto aprendendo isso, perdeu sua alma.


PIETRA está de volta.