sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sexta

Era uma sexta feira comum na cidade. As nuvens já se organizavam para despencarem em gotas da mesma maneira que na sexta passada. E era sempre, sempre assim. Tinha até contado os cinco fins de semana seguidos que chovia. Não reclamava, gostava de chuva. O sol não lhe fazia bem e ele não gostava de calor. Gostava do vento que antecede a chuva, se pudesse...Ah se pudesse. Todos estavam esperando algo dele, ela esperava algo dele. Estava cansado. Trabalhava o dia todo, mal comia. Estava magro, com olheiras e abatido. Mas ninguém percebia, ninguém notava, nem uma viva alma se compadecia daquele ser. O número de cigarros que consumia por dia aumentava geométricamente e bebia cada vez mais. Estava sujo, jogado. Foi na cozinha procurar comida mas só encontrou uma cebola solitária na geladeira e alguns biscoitos água e sal no armário. A vadia da ex-mulher estava sugando tudo o que tinha, não só o dinheiro mas a alma. Lembrava-se do dia que pegou a cadela com o síndico gorda na sua cama. 'Na minha cama, sua puta!'. Aquela vidinha, que já era uma merda, ficou ainda pior. O trabalho era terrível, os colegas de trabalho então...Uh gentinha metida à besta. Sentiu uma rajada de vento vinda da janela. Nenhum parente, nenhuma mulher, nenhum amigo. Era sozinho. Ah se pudesse... Foi para a janela ver o início da chuva. Na mesma hora virou brisa.

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